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Portanto, assim te farei, ó Israel! E porque isso te farei, prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus. Amós 4:12


Professor vê vespeiro global e fim


SÃO PAULO - O clima de tensão que se intensificou nas relações entre as grandes potências neste ano deverá continuar sendo a tônica da geopolítica no ciclo que se inicia em menos de duas semanas, com importantes processos eleitorais em curso e os efeitos das primeiras movimentações de Donald Trump no comando dos Estados Unidos sendo sentidos pelos mais diversos atores. Essa é a leitura que faz Bernardo Wahl, professor de Relações Internacionais da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas).

 

Na avaliação do especialista, as relações internacionais serão marcadas por algumas das maiores turbulências das últimas décadas, com uma série de vespeiros cutucados e impactos inimagináveis. Em uma visão ampla e estrutural, os Estados Unidos estão passando por um momento de declínio de seu poder relativo, embora isso não signifique que deixarão o posto de maior potência global, observa, destacando que este processo teve início com os atentados de 11 de setembro de 2001. As guerras no Afeganistão e no Iraque, assim como outros teatros da chamada guerra global ao terror, também desgastaram a até então superpotência (ou, até mesmo, hiperpotência). Além disso, a crise econômica de 2008 adicionou um ingrediente a mais nessa mistura, observou Wahl.

 Especialista em segurança internacional, o professor acredita que tal sucessão de acontecimentos faz com que hoje não seja possível mais considerar os EUA como a potência hegemônica global, grande responsável pela condução das relações internacionais. Em consequência desse novo processo, Wahl defende que a política internacional tende a ser mais turbulenta. Hoje se vive em um mundo G-Zero, no sentido de que não há um país ou um grupo de países capazes de conduzir uma agenda internacional. Aquela ordem internacional liberal dos anos 1990 não mais existe, argumentou, em referência às cúpulas do G-7 e G-20, que reúnem os principais países do mundo.

O internacionalista acredita que o momento atual marca o retorno da geopolítica ao centro das atenções, sobretudo com a volta do ganho de importância da Rússia no cenário global, como percebido nas eleições norte-americanas, a participação militar na guerra da Síria, a incorporação da Crimeia, dentre outros eventos. Além do empoderamento de Moscou, Wahl chama atenção para a ascensão das nações asiáticas no globo. É o caso da China, que já mostrou que não mais aceitará os termos das relações internacionais estabelecidos pelo Ocidente desde a queda do Muro de Berlim.

O professor afirma que este processo pode ser entendido como uma mudança de Westfália (evento de 1648 que marcou o início das relações internacionais como as conhecemos) para Eastfália (quando as potências do Oriente - east, em inglês - passarão a jogar com as suas próprias cartas). Chegou-se ao fim do Fim da História como havia sido sugerido por Francis Fukuyama no início dos anos 1990, concluiu o professor referindo-se à tese do autor norte-americano, que previa o início da hegemonia de Washington no campo internacional após a derrota da Rússia e o fim da bipolaridade da Guerra Fria.

Reação do mercado
Para o economista-sênior da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto, não há dúvidas que 2017 será marcado por um risco geopolítico mais elevado. Do ponto de vista dos mercados, um fechamento mais agressivo e agudo para o comércio exterior seria bastante problemático porque se daria em um momento em que as principais economias estão tentando sair de vez da fase mais crítica do pós-crise, detalhou.

Responsável pelas áreas de mercados e economia internacional, ele considera que posturas mais hostis em questões geopolíticas certamente levarão a movimentos de aversão ao risco, reação típica dos investidores em momentos de maior incerteza. Obviamente, quanto maior for a tensão, a gente sabe bem que a repercussão do mercado é correr para o refúgio dos Treasuries, dos títulos alemães, do ouro e por aí vai, afirmou.

Campos Neto avalia ainda que até seria possível um ano sem muita turbulência nos mercados financeiros se todos os elementos geopolíticos em jogo tomassem rumos mais moderados, mas considera a hipótese pouco provável. Entre os principais eventos geopolíticos no radar dos investidores, ele lista a presidência de Trump, as posições da Rússia, as reações da China ao Ocidente, as negociações do Brexit e as eleições na Europa. São muitos eventos ao mesmo tempo. Não dá pra dizer que tudo se desenrolará de forma tranquila, comenta.


Fonte: http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/5951182/professor-vespeiro-global-fim-fim-historia-analista-projeta-reacao-dos
Publicado em: 27/12/2016 15:45h